segunda-feira, 18 de abril de 2022

Até agora


 


"O sonho é a satisfação que o desejo se realize."


(Freud)



Até agora.

Achava que sabia demais.

Até agora.

Sabia o que dizer e fazer.



Na escassez.

Anestesiando uma dor.

Por trás do riso.

Há mais outro dissabor.



Inventando loucuras.

Em uma mente sã.

Secou o cálice.

Que ofertei.



Estranhos gostos. Gestos vis.

A pressa, o fogo, o desejo.

Consomem.

O plebeu virou rei.



Então voo no teu céu.

Caio em si.

Refaço. Disfarço.

O que não pode ver.

A pé. A fé.

Persiste. Resiste.

Virou pesadelo.

O que era sonho para mim.



Então nós.

Tivemos deslizes fatais.

Então a sós.

Seus lábios pedem um pouco mais..



Observações.

São inúteis se não se entende.

A sintonia fina.

É um instante de altivez.



Temos poder de bruxas e reis.

Alquimistas, nobres e freis.

Estamos pugnando.

Sem abaixar a flâmula.

E render-se a esse bem.



O meu silêncio.

É a eloquência.

O arrebatamento.

Não se pode ver nem saber.



Então o teu céu.

Tem um tom de anis.

Passo. Repasso.

O que tenho de fazer.

A dor. O amor.

Linha tênue separa.

O pesadelo do infame.

É o sonho que vem a mim.



Solitário acordei.

Solitário uma vez mais.

A solidão está cambaleando.

Você acertou duro golpe.

Ela tende a perecer.



Então no teu céu.

Voo junto a ti.

Dou o braço. Abraço.

O que é para ser.

Com fé ou sem fé.

Sem despiste. A gente insiste.

O nosso sonho.

Tem começo, mas não tem fim.



(W.B.)







quinta-feira, 17 de junho de 2021

Parte de mim


 

"Sou uma filha da natureza: quero, pegar, sentir, tocar, ser.
E tudo isso já faz parte de um todo, de um mistério. Sou uma só (...) Sou um ser. 
E deixo que você seja. Isso lhe assusta? 
Creio que sim. Mas vale a pena.
Mesmo que doa.
Dói só no começo."



(Clarice Lispector)




Trouxeste luz.
Ao que era confuso.
Trouxeste luz.
Ao que era taciturno.


Sobreviver ao desastre.
É adiar o fim.
Embaralhamos cartas.
O rei cai em motim.


Um outro final.
Não é resultado de um chiste.
A vitória sobre o mal.
Pertence apenas a quem não desiste.


És a melhor parte de mim.
Tornas o receoso em audaz.
És a melhor parte de mim.
Tornas calado o loquaz.
Tornas pacóvio o sagaz.
És a melhor parte.
A melhor parte de mim.


Gritei dos prédios altos.
Uma antiga canção para ti.
Praguejei o mal.
Ele foi um bumerangue.
Apenas para mim.


Arrependo sim.
De não provar antes.
O seu sol. O seu sal.
Quase me esqueci.
O amor da colombina.
Em pleno carnaval.


És a melhor parte de mim.
Tornas revolto sem capataz.
És a melhor parte de mim.
Tornas apto o incapaz.
És a melhor parte de mim.
Torna probo o ladravaz.


De um jeito que não sei.
Como jamais imaginei.


Não há mal.
Não há crises.
Afinal.
Os finais são felizes. (?)
Nossas melhores palavras.
São distas silenciosamente.


És a melhor parte de mim.
Tornas o vetusto em rapaz.
Somos plebeus e me torno rei.
Quando me dizes:
- Você é o que sonhei.





(W.B.)

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Reflita




"Nós vivemos dentro de um grande conto de fadas, do qual ninguém faz realmente ideia."


(Jostein Gaarder)


Parecia conto de fadas.
Eu plebeu. Você rainha.
Todo dia aprazia a você e a mim.


Dança no meio da avenida.
Coreografia louca.
Passo ritmado, sem gingado.
Sob a luz do luar.


Espera que não pereceu.
O tempo amadureceu.
Não é ódio, não é amor.
Não dá para mensurar.


O roteiro que se produziu.
A gente redigiu.
De um modo, desconexo, complexo.


Permita.
Que volte para reencontrar.
Reflita.
Permita, venha, sem senha.
Velhas novidades para apreciar.
E amar.


(W.B.)

Não há nada



"A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos."


(Picasso)


Que se faz quando se está mal?
Dividir o temor até o final?
Persiste, resiste sem cabedal.


O que se viveu não regressa mais.
O mágico tem segredos banais.
Se dissesse e quisesse voltar atrás.
Diria que é para frente que se vai.
Não há ódio, desprezo ou amor.
Pois jamais é o mesmo sabor.


Não há nada em mim.
Que não amou tudo em você.
Amou a curva do seu sorriso.
A ausência de juízo.
Seu jeito louco e imperfeito.
Sei que sorriu enquanto estava sofrendo.
Sei que ganhamos enquanto estávamos perdendo.


Fez um sinal para mim.
E afinal você viu.
Como se faz para ter céu azul.
Quando raios iluminam o escuro.
Um pedinte sabe que não pode ter tudo.
Não sabe se é bruxa ou musa.
Tem a sensação que está confusa.


Seguindo. Pelejando.
Contra Deus e o mundo.
As redes agora.
São lançadas em outros mares.


Não há nada em mim.
Que não amou tudo em você.
O brilho do seu sorriso.
O afago impreciso.
Serenas feições e afeições.
Sei que ruiu o que estava se erguendo.
Sei que esfriamos o que estava aquecendo.


Cartas queimadas.
Palavras em cinzas.
Arde o passado.
Lembranças findas.


Será que há.
Enfim.
Um afeto por você.
Um antigo regozijo.
Um novo esconderijo.
Outro rosto e mesmo gosto.
Sei que não estou entendendo.
Sei que é surreal o que está ocorrendo.


Fez um sinal no fim.
Sem adeus, partiu.


(W.B.)




quarta-feira, 28 de março de 2018

Não



"O silêncio é a mais perfeita expressão do desprezo."


(George Bernard Shaw)




"Às vezes o melhor jeito de chamar a atenção de alguém é parar de dar atenção."


(Bob Marley)




No seu tribunal.
Não fui eu que julguei.
Se fizesse uma delação.
Não teria premiação.


Tem honorário, não.
O que que tem não sei.
Só há condenação.
Somos vítimas e réus.


Um prisioneiro.
Que se livra da grade.
Descobre que o grilhão.
Jamais é banal.


Destituído sem assumir o trono.
Lançado a um canibal.
Dessabe o que lidou.
Pois sempre tergiversou.


Não.
Não tem não.
A minha antiga afeição.
Não tem não.
A minha preocupação.


Incluí-me fora de seus rolos.
Das culpas e dos dolos.
A peça que quer encenar.
Já conheço o final.


Um pavio a crepitar.
Irá dinamitar.
O que se estilhaçou.
Não se pode restaurar.


Não.
Não tem não.
A minha velha atenção.
Não tem não.
Só rolou protelação.


Não.
Não tem não.
Nenhuma explicação.
Não tem não.
Prescrição nem absolvição.


Meu bem.
Você trucidou.
Em um momento dilacerou.
E a dileção de outrora.
Agora jaz.


Não.
Não tem não.
Só sobrou a absunção.
Não tem não.
Só restará terceira compunção.



(W.B.)

domingo, 25 de março de 2018

Além




"O encontro de duas personalidades assemelha-se ao contato de duas substâncias químicas: se alguma reação ocorre, ambos sofrem uma transformação."


(Carl Jung)


Com você esqueci.
O que de ruim vivi.
Sorte, foi te encontrar.
Não deu para, não me encantar.


Ouso como nenhum.
Brilha o olho quando diz.
Que ama o que faço.
Fico bobo tal um palhaço.


Sem asas para voar.
Sem martírio.
Me aquece seu sol
Dissipa meu frio.


É mel. Diamante.
Melodia. Canção.
Desperta anseio.
A fascinação.


Eu vou te amar.
Te acariciar.


O que sofri.
Você pôs um fim.
Só a morte para findar.
O que fez brotar.


Ouço antes do desjejum.
Seu áudio que me diz.
Que o que quero.
É o que você quer.


Com jeito, sem força.
E com atenção.
A todo tempo.
Em toda estação.


Com toque nos lábios.
E no coração.
Em todo momento.
Em toda estação.


Eu vou te amar.
Vou te amar.


No céu, no mar.
À margem de um rio.
Seu raio de sol.
Preenche meu vazio.


Além do horizonte.
E da imaginação.
Além dos limites.
Da superação.


Eu vou te amar.
Só te amar.
Só te amar.
Te amar.


(W.B.)

quarta-feira, 21 de março de 2018

Seu bem




"O quereres e o estares sempre afim.
Do que é em mim tão desigual.
Faz-me querer-te bem, querer-te mal.
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitamente pessoal.

E eu querendo querer-te sem fim.
E querendo aprender o total.
Do querer que há e do que não há em mim."


(Caetano Veloso)


Saí de um tempo confuso.
Saí de um local obscuro.
Quando você me resgatou.
Saí de um lugar incomum.


Estou nervoso falando.
Estou ansioso pelo que tem.
Sou capaz de superar limites.
Mover intransponíveis barreiras.


Seu rosto tem um tom.
Seu gosto é bom.


Quero seu bem.
O que só você tem.
Quero seu bem.
Meu bem.


Deixei para trás.
Negra nuvem.
Deixei para trás.
O que fazia mal.


E agora estou pronto.
Para o que vem.
Uma outra história.
Com um novo final.


A voz dá o tom.
A sós que é bom.


Quero seu bem.
Que igual não tem.
Quero seu bem.
E o de mais ninguém.


(W.B.)